sexta-feira, 22 de julho de 2011


Introdução das técnicas do Teatro-Fórum dentro da metodologia do Teatro do Oprimido instrumentalizando novos membros/multiplicadores para aplicação em atividades artísticas educacionais.

Participe!!! 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

“O Corpo e o suas relações sócio históricas”


Pedro Henrique Machado Barbosa

Multiplicar de Teatro do oprimido

O Teatro do Oprimido é hoje difundido em mais de 70 países. Criado pelo brasileiro Augusto Boal (indicado ao Nobel da Paz/2008 e nomeado Embaixador Mundial do Teatro/2009 pela UNESCO), trata-se de um Método Estético que reúne Exercícios, Jogos e Técnicas Teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes e a democratização do teatro, estabelecendo condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e amplie suas possibilidades de expressão, estabelecendo uma comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.

Essa experiência abordará como Teatro do Oprimido junto aos usuários empreendedores da Suricato e algumas observações das vivências e estímulos de vários sentidos corporais que os jogos, exercícios do Teatro do Oprimido, proporcionam, divididos em quatro categorias. Na primeira categoria, procuramos diminuir a distância entre sentir e tocar; na segunda, entre escutar e ouvir; na terceira, tentamos desenvolver os vários sentidos ao mesmo tempo, na maioria da vezes sem o estímulo visual; na quarta, tentamos ver tudo aquilo que olhamos. E o sentido também tem uma memória, por isso a cada novo encontro, temos um espaço para lembrarmos o que foi despertado no encontro anterior.

Pensando em corpo humano, que se estabelece no complexo campo das relações sócio-históricas e que traz em si a marca da individualidade e não termina nos limites impostos pela anatomia, fisiologia ou pela própria mente, está em constante interação com o ambiente e seus diversos fatores que influenciam o nosso modo de se portar no mundo. Segundo Almeida (2004) no corpo tudo se produz: subjetividade, cultura, sociedade, poderes, opressões e desejos. Cada estruturação do corpo resulta em uma realidade material, psicológica, social, complexa, interligada, indissociável. Merleau-Ponty (1999) destaca que o corpo é o veículo do ser no mundo, e ter um corpo é, para um ser vivo, juntar-se a um meio definido, confundir-se com certos projetos e empenhar-se continuamente neles.

Tratando-se de pessoas com sofrimento mental, existem certas características particulares, tanto pelo fato dos efeitos colaterais dos psicofármacos quanto em alguns casos da própria manifestação repressora do sofrimento mental, entretanto nenhum desses empecilhos são obstáculos intransponíveis para expressão corporal.

Ao longo dos encontros da oficina de Teatro do Oprimido, quando sempre abordávamos um tema específico, muitas vezes o que ficava em maior evidência não era o tema especificamente trabalhado, mas algum sentimento manifestado. Quando, por exemplo, em um encontro que o tema era “trabalho”, usamos um exercício chamado máquina rítmica, em que o objetivo era expressar a percepção de cada participante em relação ao seu trabalho, o que entendiam como trabalho e as várias formas de enxergar um trabalho dentro de um processo de construção coletiva. Mas os participantes demonstraram um interesse especial em falar da dificuldade em expressar o “perdão” comparando com a “raiva” que foi um sentimento muito fácil de ser expresso. O trabalho, porém, por mais que tenha o objetivo de ser solidário possui conflitos interpessoais, bem como no processo de produção e as formas de manifestações desse problema se sobressaem mais facilmente que em um ambiente tradicional de trabalho.

Em outro momento realizamos um encontro para problematizar a solidariedade, dentre os exercícios desenvolvidos existiu uma manifestação de um corpo com necessidade do aconchego, carinho e segurança de um abraço amigo, onde a presença do calor do outro se demonstrou benéfica para os participantes, rompendo alguns tabus de afastamento por receio do contato corporal. Segundo Almeida (2004), o mito de que o corpo seria um objeto difícil de trabalhar, um recurso perigoso, despertador de formas negativamente intensas e ocultas é uma reedição cristã do corpo como lugar do proibido, do demoníaco, do incontrolável, do desconhecido. O autor considera que o perigo do trabalho com o corpo ocorre não para o sujeito que o explora, mas por colocar em crise a permanência rígida dos saberes da clínica.

Analisando o que Almeida relata, tive a oportunidade em trabalhar com pessoas em sofrimento mental sem saber o diagnóstico de nenhum dos participantes, nem tendo como pressuposto a rigidez de uma clínica limitadora, isso talvez tenha me proporcionado maior liberdade de desenvolver jogos e exercícios que trabalham muito o tato que para alguns profissionais, poderia ser perigoso, mas o que ficou mais em evidência foi o sentimento de alívio e aconchego do contato corporal.

Alguns jogos e exercícios foram realizados sem a visão, o sentido que nos fornece maior quantidade de estímulo, esses jogos eram justamente para exercitar o estímulo dos outros sentidos. Alguns participantes demonstraram-se desconfortáveis, principalmente quando estavam sozinhos, muitos abriam os olhos sentiam-se inseguros com receio de esbarrar em alguma coisa ou alguém. Mas foi a partir desses jogos que trabalhamos o autoconhecimento e o aprofundamento do indivíduo consigo e com o ambiente, desenvolvendo maior capacidade de própriocepção e cinestesia, em que através de relatos e observação dos participantes pude perceber uma busca pelo outro e a insegurança de ficar sozinho, mas ao mesmo tempo o aflorar de sentidos pouco desenvolvidos e o alívio quando se restabelecia a visão.

Os jogos e exercícios da segunda categoria que evolvem a escuta, que não quer dizer apenas o ouvir, mas escutar todas as mensagens transmitidas sejam por sons indefinidos, entonações vocais, expressões faciais ou corporais, mostrou-se em alguns momentos conflituosos, pois os participantes tinham um desejo muito forte de apenas falar e ouvir. Esses jogos e exercícios foram reveladores, possibilitando aos participantes expressarem-se de maneira particular, colaborando na afirmação de uma singularidade em meio a não aceitação do diferente em sociedade.

Como estagiário de Terapia Ocupacional e como multiplicador do Teatro do Oprimido achei essa experiência com os empreendedores da Suricato válida em minha prática profissional, pois os participantes tiveram a oportunidade de experimentar outras formas de se relacionar e de vivenciar situações inéditas relativas o seu trabalho e suas condutas sociais, experimentando diversas possibilidades com o corpo, tendo contato aprofundado do indivíduo consigo e com o ambiente, possibilitando que essas vivências ganhem um sentido e um significado na vida de cada sujeito. E depois desse trabalho e cada vez mais, percebo as ilimitadas formas de expressão de um corpo independente de seu estado mental, orgânico ou social.

Referências:

AFONSO, Maria Lúcia M. (org). Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do psicólogo, 2000.

ALMEIDA, Marcus Vinicius Machado de. Corpo e arte em terapia ocupacional. Rio de Janeiro: Enelivros, 2004. 164p.

BALLARIN, M. L. G. S. Abordagens Grupais. In: CAVALCANTI, Alessandra; GALVÃO, Flávia. Terapia Ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

CUKIERT, Michele. Considerações sobre corpo e linguagem na clínica e na teoria lacaniana.Psicol. USP. 2004, vol.15, n.1-2.

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 5ª edição, 2002.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

RIBEIRO, R.C.F Oficinas em saúde mental. In: COSTA, CM; FIGUEIREDO, AC. Oficinas Terapêuticas em Saúde Mental – Sujeito, Produção e Cidadania. Rio de Janeiro, Editora: Contracapa, 2008.

SILVEIRA, Nise da. O Mundo das Imagens. São Paulo, Editora Ática S.A.,1992.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Marias e Madalenas

Maria e Marias

Maria de todas as Marias

Marias são todas Maria

Raízes do bem fazejo

Virtude de toda dor.

Derrama de todos os perfumes

As flores cultivas da vida

E luta com armas eficazes

Homeopaticamente curando ferida

E luta, e briga e vence

Vence a tristeza na cor

Bate o tambor da vida

Unindo firmeza com amor

E cala na hora certa

Hora silêncio - olhos fechados

E grita na hora da ira

Ira das que não são caladas.